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  • Foto do escritorCris Dorini

Nada será como antes...

De volta ao começo? Quem acredita que com o início da vacinação o mundo retornará ao que era antes da pandemia, possivelmente está no planeta errado. Trabalho e consumo, que fazem a economia girar, já experimentam novos tempos com escritórios virtuais ou híbridos, enquanto os consumidores estão mais atentos aos impactos ambientais e sociais de suas compras.




A pesquisa EY Future Consumer Index (Veja Insights) revelou uma tendência de "aceleração do comportamento social e ambientalmente responsável dos brasileiros". Isso não é pouca coisa. A Covid19, que tanto impacta nossa vida, que remete a perdas, sofrimento e medo, deixa também um outro lastro, de solidariedade e adesão a pactos coletivos. A maioria das pessoas quer se vacinar e continua seguindo protocolos de segurança, do uso da máscara ao distanciamento físico em suas rotinas. Mas tem a fadiga emocional. Não por acaso, a saúde mental foi inserida nas agendas de governos, empresas e sociedade civil. Ou seja, o debate está colocado em todos os ambientes. A crise sanitária, que acelerou mudanças tecnológicas e comportamentais, alterou certezas sobre o presente e as perspectivas de futuro, mostrou que o adoecimento mental pode virar uma bomba-relógio.


No início da semana me inteirei um pouco da Agenda Davos, que aconteceu em Janeiro de 2021, e serve como prelúdio do Fórum Mundial em maio. 'O Grande Reinício', slogan deste ano, trata das consequências da crise da Covid19 e das linhas para a recuperação mundial, com a saúde mental na pauta dos debates sobre um futuro melhor para o trabalho. Pelo menos desde 2014 o fórum começou a discutir questões sobre bem-estar mental de colaboradores e o papel dos empregadores. A diferença é que o tema ganhou uma relevância sem precedentes, já que a extensão dos problemas relacionados à ansiedade e estresse são agora um imperativo também na perspectiva dos negócios.


Saúde mental no mundo do trabalho foi tema de um painel da agenda, que apresentou uma pesquisa da Deloitte, feita em 43 países. Dos entrevistados da geração Z, que é bem jovem, 48% admitiram se sentir o tempo todo estressados e ansiosos, e entre os millennials o índice chegou a 45%. Para Punit Renjen, CEO da empresa de consultoria e pesquisa, o processo de encarar o adoecimento mental nas empresas não se faz sem acabar com os estigmas, o que começa com o papel das lideranças. Outro ponto foi sobre que tipo de programas implementar com a ideia que descobrir o que realmente funciona no ambiente corporativo deve vir antes dos projetos de bem-estar mental, porque as abordagens têm efeitos diferentes, que variam conforme as pessoas.


“A pesquisa revela que, apesar dos desafios individuais e das fontes pessoais de ansiedade que a geração tem enfrentado, ainda é possível manter o foco em questões sociais mais amplas, tanto quanto antes da crise. O momento apenas reforçou o desejo de ajudar a impulsionar mudanças positivas em suas comunidades e em todo o mundo. Os esforços continuam para que empresas e governos reflitam sobre o compromisso com a sociedade, priorizando as pessoas e a sustentabilidade ambiental. O mundo após a pandemia será certamente diferente, e é provável que esteja mais alinhado com os ideais que os jovens têm – em que o planeta pode se recuperar, os negócios podem se adaptar rapidamente e as pessoas se podem ser mais cooperativas” (Pesquisa Deloitte - As Gerações Resilientes).


O sentimento de desamparo diante de um vírus, que alterou profundamente nosso jeito de viver, mobiliza pesquisadores do mundo inteiro. No final de dezembro, cientistas canadenses, que estudam os impactos da pandemia, publicaram um grande estudo na revista científica Psychiatry Research. O resultado? A saúde mental de milhões de pessoas está em erosão com a prevalência dos casos de insônia (24%), transtorno por estresse pós-traumático (22%), depressão (16%) e ansiedade (15%). O aumento de casos chega até cinco vezes mais do que era habitualmente relatado pela OMS. Os pesquisadores, mostrou uma reportagem do ElPaís, fizeram uma meta-análise com dados de 55 estudos internacionais e mais de 190 mil participantes. Na lista de obstáculos cotidianos que ameaçam a saúde mental, segundo os especialistas, estão confinamento, angústia financeira, distanciamento físico e social, medo do contágio, preocupação com familiares e amigos, incerteza.


"O brasileiro está cansado, mais cansado do que no início da pandemia. Além dos impactos na renda e no consumo, nós estamos sofrendo o impacto na saúde mental. Há um grau de irritabilidade e uma procura desesperada de desculpas para sair na rua. Teremos um brasileiro que sai da pandemia mais descrente de seus governantes, mas que chama para si a responsabilidade pela própria vida, com hábitos fortemente acelerados pelas novas tecnologias e que mudam o seu poder de escolha na hora de comprar e decidir onde vai deixar o seu dinheiro” (Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, revista Gama)

LARS TUNBJÖRK

Muita gente tem me perguntado por que, Miriam e eu, consultoras de imagem, resolvemos levar para nosso trabalho o tema da saúde mental. Nós duas consideramos, como explicamos nos artigos anteriores, que também em nossa área não será possível trabalhar desconhecendo ou ignorando essa questão. Como vamos lidar com clientes corporativos ou pessoais sem o entendimento dos impactos da pandemia nas nossas emoções?


A percepção de imagem, ou a autoimagem, tende a ficar exacerbada, e quando negativa vai afetar mais ainda a vida da pessoa

como tão bem explicou a Miriam. A parte que nos cabe é uma atenção redobrada aos nossos clientes, que são consumidores de nossos serviços, ressignificando e dando sentido e propósito a tão falada humanização do atendimento.


Juntamos nossas experiências, profissionais e de vida, quando iniciamos as conversas sobre os efeitos da pandemia no nosso trabalho. Como lidar com os impactos na saúde mental - na nossa e de nossos clientes da consultoria de imagem? Como dar relevância a essa função, que trata de imagem, aparência, comportamento e identidade visual diante de um mundo em crise? Como gerar benefícios, de verdade, aos clientes? Quando vencermos a pandemia, mesmo demorando mais do que parece suportável, qual será a importância da imagem pessoal e corporativa? Temos mais questionamentos do que respostas, o que nos estimula a estudar, pesquisar e trocar experiências a fim de que a consultoria de imagem contribua efetivamente para o bem-estar do cliente. O que a gente sabe é que cada pessoa vai emergir desta crise com suas subjetividades, marcas, perdas, cicatrizes, dilemas, superações, esperanças, resistência. Precisamos nos preparar para entendê-las um pouco mais e lidar também com nossos próprios entraves e singularidades.


"E agora, José?/ Sua doce palavra,/ seu instante de febre,/

sua gula e jejum,/ sua biblioteca,/ sua lavra de ouro,/

seu terno de vidro,/ sua incoerência,/ seu ódio — e agora?"



CRIS DORINI

Sou Cris Dorini, Consultora de Imagem Pessoal / Profissional e Comportamento. Presidente da FIPI - Federação Internacional dos Profissionais de Imagem. Sócia e fundadora da CD Negócios Empresariais e TRIO Inteligência em Imagem.Docente da Belas Artes, Faculdade Insted e TRIO Inteligência em Imagem.Palestrante e Mentora.

(*) Este é o terceiro artigo, escrito a quatro mãos com minha colega Miriam Lima, consultora de imagem e psicanalista. Reflexões que são fruto de nossas conversas sobre saúde mental, pandemia, o mundo pós-pandemia e o quanto isso afeta, entre outras coisas, nossa imagem pessoal. As referências ao poema drummondiano vêm deste tempo presente, uma espécie de "José para onde?" no coletivo


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